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Palavra do leitor

Sobre o ministério pastoral feminino

Há algum tempo venho desejando escrever sobre este assunto, mas tenho hesitado um pouco, pois trata-se de terreno movediço, devido à exacerbação que tomou conta dele. Contudo, mesmo correndo riscos, resolvi tratar da questão. Quero, porém, fazê-lo de maneira desapaixonada, de modo a chegar a uma posição equilibrada.

Creio que, para tanto, é preciso começar por uma abordagem antropológica. Entre os estudiosos dos sistemas de parentesco, principalmente nas sociedades ditas primitivas, destaca-se Claude Lévi-Strauss, que em seu livro "As Estruturas Elementares do Parentesco" (Vozes/USP, 1976, p.176), disse algo que considero importante: "Os regimes matrilineares existem em número comparável (e sem dúvida superior) aos regimes patrilineares. Mas o número de regimes matrilineares que são ao mesmo tempo matrilocais é extremamente pequeno (....) A permanência da residência patrilocal comprova a relação fundamental de assimetria entre os sexos, que caracteriza a sociedade humana." (Obs.: no regime matrilinear a linhagem é contada pelo lado da mãe e os homens devem buscar suas esposas entre o clã materno. No regime patrilocal a família reside no local de origem do pai, sendo este estabelecido por meio da propriedade do território. Portanto, mesmo sendo a mulher a definidora da linhagem, quando se casa vai morar com o clã do marido).

Vê-se, pois, que mesmo entre os povos primitivos existe uma assimetria entre os gêneros, que leva à atribuição de um papel de liderança ao homem. Essa assimetria se fez mais acentuada à medida em que a organização social tornou-se mais complexa, por basear-se não mais apenas na propriedade do território, mas também na de outros bens, inclusive bens simbólicos. Assim, os indivíduos com maior patrimônio passaram a deter o poder político. Diz Lévi-Strauss: "As sociedades que atingem o estágio da organização política têm a tendência a generalizar o direito paterno." (p.156). Aqui temos, pois, a origem do regime patriarcal, cuja agudização na maioria das sociedades organizadas politicamente, levou a uma violenta desvalorização da mulher, que passou a ser um mero objeto de troca, de função reprodutora e de satisfação dos prazeres do homem. Entretanto, nas sociedades primitivas não se percebe essa desvalorização, mas uma divisão equilibrada de papéis, em que, todavia, é visível a liderança do homem sobre o núcleo familiar, em virtude de a residência da família ser, em sua imensa maioria, patrilocal.

No final do seu livro, Lévi-Strauss faz uma interessante ligação entre a universalidade da linguagem e a das estruturas de parentesco, sendo o traço universal da primeira "a concepção da palavra como verbo, como poder e ação" e das segundas "a relação entre a regra de residência e a regra de filiação" (pp.533 e 534). Os especialistas em linguística, quase que unanimemente, relacionam a origem da linguagem com uma única matriz biológica. As estruturas familiares também podem ser reduzidas a praticamente uma única matriz relacional (filiação/residência). Não nos levaria essa conclusão em direção ao ensino da Bíblia sobre a criação do homem e da mulher e aos papéis ali estabelecidos para um e para a outra? Não seria o regime patriarcal, tal como veio a se tornar ao longo da história, uma perversão da estrutura familiar estabelecida por Deus na criação - uma relação de iguais sob a liderança do marido?

Portanto, visto que o regime patriarcal é um traço cultural praticamente universal (há pouquíssimos exemplos de matriarcalismo), toda discussão da condição da mulher passa, necessariamente, por reconhecer sua existência e interpretar as situações históricas à luz desse traço. Assim também, toda discussão a respeito da mulher na Bíblia, deve reconhecer que esta última foi produzida em uma cultura patriarcal. Veja o que diz o famoso Willowbank Report, da Comissão de Lausanne para a Evangelização Mundial, traduzido no Brasil como o nome "O Evangelho e a Cultura" (ABU,1991): "A auto-revelação de Deus na Bíblia foi dada em termos da própria cultura do ouvinte." (p.11). E também: "Deus proferiu sua palavra a um povo particular, num contexto e tempo particulares" (p.15). O mesmo Relatório completa esse pensamento dizendo que o fator cultural "está presente não só na auto-revelação de Deus na Escritura, como também em como a interpretamos." (p.15). Eu diria que o dado cultural também está presente na maneira como traduzimos a Bíblia.

De fato, uma das questões mais importantes com respeito à interpretação e à tradução da Bíblia são os chamados "abismos hermenêuticos", entre os quais podemos citar o histórico-geográfico, o linguístico, o sociopolítico e o cultural. A Bíblia foi escrita durante 1.400 a 1.500 anos, por mais de quarenta autores, em línguas que não existem mais, num ambiente marcado por regimes políticos, economias e culturas que quase nada têm a ver conosco (o último livro da Bíblia foi escrito há mais de 1.900 anos). Quando dizemos "abismo cultural", estamos falando de cultura como o conjunto dos valores, crenças e costumes de uma sociedade, das instituições que expressam essas categorias dentro desta mesma sociedade, e de suas manifestações técnicas, literárias, artísticas, religiosas e filosóficas. A cultura é condicionada por vários fatores, principalmente o nível de conhecimento técnico, humanístico e religioso da sociedade, a geografia do seu território e sua inserção numa determinada região. É fácil perceber a distância entre nós e os povos bíblicos, que viveram em época, espaço geográfico e com valores, crenças e costumes imensamente diferentes dos nossos.

Como exemplo, os textos de I Coríntios que se referem ao comportamento das mulheres durante o culto (11.3-16 e 14.33-35), só podem ser corretamente interpretados dentro do contexto cultural da sociedade corintiana. Segundo B.P. Bittencourt ("Problemas de Uma Igreja Local", JUERP, 1986, p.90), em Corinto, nenhuma mulher que se prezasse ousava aparecer em público sem o véu, do contrário poderia ser julgada como desavergonhada e ser vítima de insultos e gracejos dos homens. Na verdade as roupas masculinas e femininas eram muito parecidas, e o véu era importante para fazer diferença entre homens e mulheres. Só não usavam o véu as amantes dos cidadãos influentes, as adúlteras, que tinham a cabeça raspada como castigo, e as mil prostitutas sagradas do templo de Afrodite, conforme David Prior ("A Mensagem de I Coríntios - A Vida na Igreja Local", ABU, p.193). Em sua grande maioria as mulheres eram analfabetas, incultas e tidas como pessoas a quem não se devia dar ouvidos. Aliás, normalmente elas não falavam em público.

Ao se converterem, as mulheres da igreja de Corinto experimentaram uma liberdade inusitada e algumas delas, ao participarem dos cultos, quando oravam e profetizavam, passaram a cometer exageros, tirando seus véus, soltando os cabelos (exatamente como faziam as prostitutas cultuais durante as suas práticas no templo de Afrodite) e falando em demasia. Portanto, o ensino de Paulo era pertinente àquele lugar, àquela época e àquela situação. O mesmo David Prior, entretanto, diz, corretamente (citando F.F.Bruce), que o que se pode depreender dessa instrução extremamente localizada é o princípio, válido até hoje, de que o cristão não tem licença para transgredir desnecessariamente os costumes do seu próprio povo (p.195). A prática das irmãs corintianas estava trazendo escândalo e rejeição para o nome do evangelho. Os missionários transculturais frequentemente se deparam com o mesmo problema em seus campos de trabalho. O novo convertido não precisa nem deve romper com todas as regras da sua própria cultura.

A história da evangelização de Corinto (Atos 18) nos mostra que, muito provavelmente, os números 1 e 2 no rol de membros da igreja seriam Priscila e Áquila, assim mesmo, nessa ordem. Em cinco das seis vezes em que é citado esse casal, que colaborou extensamente no ministério de Paulo, os nomes aparecem nessa ordem. O destaque devia-se "à invulgar capacidade intelectual ou social de Priscila" (B.P.Bittencourt, p.25). Outro dado interessante é que em Cencréia, cidade portuária que distava apenas 13 km de Corinto, havia uma "diaconisa" chamada Febe, à qual Paulo faz um alto elogio na carta aos Romanos (Rm. 16.1,2 - A igreja de Cencréia certamente era originária da de Corinto). Ora, seria estupidez pensar que Paulo, cercado de colaboradoras tão ilustres como estas e outras citadas por ele em várias ocasiões, proibisse a liderança das mulheres nas igrejas, até mesmo porque no texto citado acima, ele reconhece que as mulheres poderiam orar e profetizar, desde que usassem o véu (I Co. 11.5).

Quanto ao ensino de que o homem é a cabeça da mulher, quando ampliamos o seu contexto percebemos que não só Paulo como outros autores bíblicos estão se referindo à estrutura familiar, em que o marido deve assumir - e a esposa deve reconhecer - a posição de chefe. Entretanto, a mulher somente tem o dever de ser submissa a um verdadeiro líder e não a um déspota, ou - no outro extremo - a um covarde. Em Ef. 5.22-33 Paulo apresenta Jesus como modelo de líder para os maridos. Qualquer mulher se submeterá com prazer a um marido que a lidere como Jesus lidera a igreja. Mas creio que este ensino aplica-se apenas à família. Quanto às outras áreas da vida, como, por exemplo, a profissão, a religião, a cidadania, a educação, não há preponderância do homem sobre a mulher, ou desta sobre o homem.

Um outro problema de interpretação bíblica que envolve os elementos culturais são os chamados "silêncios" da Bíblia. A Palavra de Deus não se dirige diretamente a religiões como o hinduismo, budismo ou islamismo; nela não encontramos nenhum ensino específico sobre como agir diante da complexidade do mundo contemporâneo, com sua tecnologia, suas conquistas democráticas e individuais, ou suas questões éticas como a eutanásia e o aborto. Nesse sentido há na Bíblia grandes "silêncios" sobre a mulher, a escravidão, a guerra e outro temas, visto que sua produção foi condicionada pela cultura do ambiente em que foi escrita. A inspiração das Escrituras não se deu em um vácuo. Assim, por exemplo, o fato de Jesus ter escolhido apenas homens para serem seus apóstolos não quer dizer que ele estava estabelecendo um padrão permanente para a sua igreja. Quer dizer apenas que ele agiu de acordo com os padrões culturais da época. Aliás, não poderia ser diferente, a menos que quisesse transformar seus planos em um fracasso retumbante. Discordamos daqueles que vêem no fato de o NT mencionar apenas homens no ministério pastoral um padrão a ser seguido pela igreja. Quem sabe se as mulheres que provavelmente faziam o trabalho pastoral na igreja primitiva não foram citadas por causa da cultura patriarcal? Por exemplo, a palavra "diakonon", usada (assim mesmo, no masculino) para designar Febe em Rm. 16.1, também pode ser traduzida como "ministro". Por que traduzi-la como "serva" ou "diaconisa" para referir-se a Febe, e não como "ministra"? Por que Paulo usou a forma masculina?

Entendo que para a investidura de mulheres no ministério pastoral apenas duas grandes questões devem ser consideradas: 1. Não representaria uma grave ruptura da cultura em que a mulher teria que exercer seu ministério? 2. São preenchidos os requisitos estabelecidos pela Palavra de Deus? No primeiro caso temos uma questão cultural, no segundo temos uma questão bíblico-teológica.

Na questão cultural, Paulo agia sob dois grandes princípios, expressos claramente em várias passagens. Em primeiro lugar, o apóstolo usa abundantemente a expressão "em Cristo", que a NTLH traduz sempre por "nossa união com Cristo". Com isto ele quer dizer que, ao crer em Jesus como Salvador, o ser humano é trazido a uma nova condição como pessoa, em que há um rompimento com o passado. Assim, ele afirma em II Co. 5.17: "Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação; as coisas velhas já passaram, e surgiram coisas novas". Também em Gl. 3.27,28: "Porque todos os que em Cristo fostes batizados, de Cristo vos revestistes. Não há judeu, nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, porque todos vós sois um em Cristo Jesus." Em segundo lugar, Paulo diz, em I Co. 7.21,24: "Cada um permaneça na condição em que foi chamado", preconizando, portanto, a não ruptura das regras sociais que regiam a vida do novo convertido, desde que, evidentemente, não impedissem o exercício da fé em Cristo. É assim, por exemplo, que ele trata a questão da submissão às autoridades (Rm. 13.1-7). E é seguindo esse princípio que devolve o antigo escravo fugitivo, Onésimo - agora crente em Jesus - ao seu senhor legal, Filemon. Temos aqui a famosa tensão entre o "ser e o vir a ser" tão presente no NT; entre aquilo que poderemos ser e no que Deus efetivamente nos transformará, e aquilo que podemos ser no momento. Em Cl. 3:22-4:1, há uma amostra de como Paulo procurou resolver essa tensão no âmbito dos domésticos da fé, dizendo aos escravos que servissem como se fosse ao Senhor, e aos senhores que se lembrassem que também tinham um Senhor. Quer dizer, senhores e escravos deviam relacionar-se não como tais, mas como sendo, uns e outros, servos de um mesmo e único Senhor.

Mas, voltando à questão acima formulada, cremos que a investidura de mulheres no ministério pastoral no Brasil não configura uma grave ruptura cultural, a não ser em alguns bolsões em que o patriarcalismo ainda é muito forte. Na maior parte do país este elemento cultural está em franco declínio, em virtude do seu substancial componente econômico. A independência econômica da mulher torna-se rapidamente um fato consumado, transformando o patriarcalismo em algo sem sentido. Dados recentes mostram que uma em cada quatro mulheres brasileiras que são mães, são também chefes de família (aliás, trata-se de uma dupla jornada perversa: trabalham fora e dentro de casa, são mães e "pais").

Aqui torna-se oportuno mencionar dois elementos desse cenário. O primeiro é o machismo, para mim uma reação à extinção do patriarcalismo, uma elaboração ideológica de defesa da permanência das prerrogativas masculinas, em face do seu crescente declínio. Machista é aquele que não consegue perceber que perdeu (ou está perdendo) o papel de patriarca, uma figura que está se tornando obsoleta. O machismo puro e simples é um dos grandes obstáculos à promoção do ministério pastoral feminino no Brasil. O segundo, uma contrafação do primeiro, é o feminismo, que igualmente considero uma manifestação ideológica e que, a meu ver, também tornou-se um componente prejudicial à promoção do pastorado feminino no nosso país. Infelizmente, algumas pessoas envolvidas nessa questão partiram para a batalha ideológica. O Dr. Jaziel Guerreiro Martins, diretor geral da Faculdade Teológica Batista do Paraná, escreveu o capítulo intitulado "Teologia Feminina e Modernidade", do livro "Teologia e Modernidade" (Fonte Editorial Ltda., 2005). É especialista no assunto, sobre o qual produziu sua dissertação de mestrado na Universidade de Birmingham, Inglaterra. Ele conclui o citado capítulo dizendo que as mulheres cristãs deveriam buscar ocupar o seu espaço "sem a preocupação de uma luta imediata contra a tradição patriarcal ou contra estruturas opressoras que, por sua natureza, estão enclausuradas em dogmas e tradições que são praticamente impossíveis de demover" (p.246). Em outras palavras, a confrontação ideológica não é o melhor caminho, porque vai dar num impasse.

A questão bíblico-teológica é, pois, o único terreno onde deve ser travado o debate sobre o ministério pastoral feminino. Como já disse anteriormente, não vejo no NT nenhuma proibição explícita à investidura de mulheres no ministério pastoral. Repito também que o fato de o NT mencionar que apenas homens exerciam o ministério pastoral, não pode ser tido como um padrão a seguir, pois não há nenhuma declaração explícita de que somente pessoas do sexo masculino poderiam exercer o pastorado. Na verdade, parece tratar-se de um "silêncio cultural", como já dissemos. Concluo, então, que a investidura feminina no ministério pastoral somente deve submeter-se aos mesmos critérios bíblicos estabelecidos para qualquer pessoa que aspire o ministério pastoral. E é justamente aqui que vejo alguns problemas. São três os requisitos para exercer o ministério pastoral: a ocorrência de uma chamada, a existência de uma missão e o preenchimento de uma lista de qualificações espirituais e morais.

O verbo "chamar" e seu substantivo (da raiz kaleo em grego) são de amplo uso e têm muitos significados no NT. Um desses significados é o que encontramos em At. 13.2,3: "Enquanto cultuavam o Senhor e jejuavam, o Espírito Santo disse: Separai-me Barnabé e Saulo para a obra para a qual os tenho chamado. Então, depois de jejuar, oraram e lhes impuseram as mãos, e deixaram que partissem." O texto não diz explicitamente a quem o Espírito Santo falou, se à igreja ou aos cinco líderes mencionados no v.1, nem como falou; e não esclarece a maneira como se deu o chamado a Barnabé e Saulo. Mas os estudiosos de Atos entendem que Deus falou à igreja, e também (antecipadamente) a Barnabé e Saulo, certificando que queria estes dois últimos realizando uma obra específica, e que competia à primeira consagrá-los pela imposição de mãos e enviá-los. Basicamente é isto que, até hoje, entendemos por chamada divina: uma convocação objetiva a alguém para realizar um trabalho específico. Objetiva porque o Espírito Santo comunica tal chamada tanto ao indivíduo como à igreja. Presume-se, deste texto, que, pela atuação direta do Espírito, a igreja é capaz de identificar quem é efetivamente chamado, e este também é capaz de identificar-se como tal. Infelizmente, esse critério não vem sendo observado por todos, e por isso temos tido muitos casos em que somente o indivíduo ''ouviu" a chamada, ou em que, aparentemente, nem ocorreu uma chamada.

Por outro lado, Barnabé e Saulo foram chamados para cumprir uma missão específica. A palavra aqui traduzida por "obra" é "ergon", e seria melhor vertida como "trabalho", que também chamamos de serviço, ocupação, tarefa, emprego. Quer dizer, Deus chama para uma ocupação específica. Não creio que Deus nos chame somente para estudar teologia, para meramente satisfazer uma curiosidade intelectual ou mesmo para matar uma honesta sede de conhecimento. Parece que a proliferação desenfreada de cursos de teologia, a maioria dos quais do tipo "fundo-de-quintal", tem levado muita gente a pensar assim, mas este certamente não é o objetivo para o qual Deus chama pessoas. A igreja somente deve ordenar alguém, e este somente deve aceitar a ordenação, se for para um trabalho claramente indicado pelo Espírito Santo. Infelizmente muitos têm buscado um título ou uma posição, não uma missão. Nos bancos das grandes igrejas sentam-se hoje muitos pastores sem ocupação, e não é por serem aposentados. Outras igrejas "criam" ministérios para "encaixar" os pastores que vão consagrando. São "pastores de organograma". Conheço uma igreja pequena que tem quase uma dezena de pastores, entre eles três mulheres. Na verdade tal igreja precisa, no máximo, de um pastor, um ministro de música e um educador religioso, com os quais funcionaria muito melhor.

Outro grande problema do ministério pastoral no Brasil é a o da integridade moral e espiritual. O NT registra várias listas de qualificações para que alguém exerça o ministério pastoral, entre as quais podemos citar At. 20.28-35, I Tm. 3.1-11, Tt. 1.5-9; 2.7,8, e I Pd. 5.1-9. Esta é uma área em que temos presenciado verdadeiras tragédias, pelo fato de as igrejas não exigirem dos que são ordenados a esse ministério o preenchimento integral dos requisitos bíblicos. Por pelo menos duas vezes Paulo diz que o pastor precisa ser "irrepreensível" (I Tm. 3.2 e Tt.1.6). O sentido original dessa palavra é que não deve ser possível levantar nenhuma suspeita sobre a integridade da pessoa que aspira o ministério pastoral. Infelizmente estamos vivendo um tempo em se dá muito mais importância ao carisma que ao caráter.

O ministério pastoral feminino se dá no mesmo ambiente e nas mesmas condições que o masculino. Por isso, é atingido pelas mesmas mazelas que atingem este último. Porém, antes de finalizar nossas considerações, gostaríamos de abordar alguns problemas que se referem especificamente ao ministério pastoral feminino, pelo menos no seu estágio atual. Em uma lista de setenta e oito pastoras batistas brasileiras publicada no site Informativo Batista em 06/01/09, percebo algumas realidades e tendências que me fazem pensar muito e levantar algumas interrogações.

Em primeiro lugar, quase 40% das pastoras dessa lista localizam-se na área de abrangência de três das menores convenções estaduais, sendo que 22% estão na área da menor convenção. Em duas grandes convenções há um número razoável de pastoras (13% e 11% da lista), mas o restante dos nomes está pulverizado entre 9 outras convenções, grandes e pequenas. Entretanto, a lista não registra um nome sequer nas áreas de abrangência de mais da metade das convenções estaduais, entre as quais há pelo menos uma considerada grande. Não seria legítimo indagar se o ministério pastoral feminino batista não está, em grande parte, se configurando na forma de um modismo regional? Ou, perguntando de outra maneira, não estariam esses dados mostrando que a maioria das igrejas batistas brasileiras ainda não se convenceu da conveniência/oportunidade de se ter mulheres no ministério? Deus não tem chamado nenhuma mulher na imensa maioria das igrejas batistas brasileiras, ou tais igrejas, seus pastores e líderes seriam simplesmente "machistas"?

Em segundo lugar, nessa lista de pastoras há várias esposas de pastores. Nada impede que Deus chame uma esposa de pastor para também pastorear, mas o que me preocupa é que numa determinada convenção, cujo território é muito pequeno, apesar do grande número de igrejas, há um grupo significativo de pastoras que, coincidentemente, são esposas de pastores titulares de grandes igrejas, cujos membros se contam aos milhares (e são igrejas que têm uma certa identidade de metodologia). Na mesma convenção há um caso interessante, em que o pastor titular faleceu e foi sucedido pela esposa. Novamente seria legítimo perguntar: não estaríamos assistindo à formação de "dinastias" pastorais? Um processo de concentração e continuidade de poder?

Para que não me entendam mal, advirto que estas perguntas, baseadas numa lista que considero incompleta, têm apenas o objetivo de chamar a atenção para o fato de que o assunto é complexo e não se enquadra em conclusões simplistas e afirmações reducionistas como as que temos visto frequentemente.

A formação de um ministério pastoral feminino no Brasil é inevitável, mas, como todo processo de mudança social, enfrenta muitas resistências que aos poucos irão desvanecendo. Por isso é necessário que todos os envolvidos usem menos ideologia e mais bom senso, paciência e perseverança. Contudo, o processo poderá ser mais ligeiro se a ordenação de mulheres obedecer estritamente aos parâmetros bíblicos (chamada, missão e caráter) e forem corrigidas as distorções atuais. Um antigo refrão publicitário dizia: "Quem não é o maior, tem que ser o melhor." O ministério pastoral feminino, ainda incipiente, precisa ser de alta qualidade, para o bem das igrejas e para a sua maior aceitação e expansão. E, assim como tem acontecido em outras profissões, as mulheres poderão contribuir para fazer subir o nível de excelência do ministério pastoral como um todo.

(Rio, 20 de abril de 2009)
Itaperuna - RJ
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