Seguidores de Cristo ou Discípulos dos Fariseus?

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Quando a jovem nação de Israel ainda peregrinava pelo deserto, o Senhor Deus através de Moisés listou as classes de pessoas que não poderiam fazer parte do povo de Deus. Entre eles estavam os moabitas e os amonitas, duas nações que haviam negado ajuda ao povo de Israel e ainda tentaram destruí-lo:
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Nenhum amonita nem moabita entrará na congregação do Senhor; nem ainda a sua décima geração entrará na congregação do Senhor eternamente. Deuteronômio 23:3
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No entanto, alguns séculos mais tarde um homem importante chamado Boaz anuncia o seu casamento para todo povo de Israel:
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E de que também tomo por mulher a Rute, a moabita, que foi mulher de Malom, para suscitar o nome do falecido sobre a sua herança, para que o nome do falecido não seja desarraigado dentre seus irmãos e da porta do seu lugar; disto sois hoje testemunhas. Rute 4:10
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O que será que aconteceu? O povo havia se esquecido da Lei ou foram complacentes porque Boaz era um homem rico? De modo algum, visto que “o Senhor deu a Rute – a moabita outrora amaldiçoada – a bênção de ficar grávida, e ela deu à luz um filho”. Não obstante, o filho da moabita tornou-se avó do rei Davi e assim Rute conquistou lugar entre os ascendentes de Jesus, o filho de Deus.
Mas a pergunta persiste, o que aconteceu, por que essa mudança?
A Bíblia deveria nos ensinar que as leis têm o seu propósito, elas não são um fim em si mesmas, mas servem para ressaltar o que é mais importante, para definir valores e, para tanto, precisam ser estritamente observados até certo ponto; depois desse estágio inicial, elas passam a ser uma referência para aqueles valores atemporais que estavam sendo ensinados através delas. Jesus não apenas disse que a Lei não passará (Mateus 5.18) mas explicou como a Lei “evolui” tornando-se princípios e valores e não apenas mais uma regra tácita. Assim, o que era apenas uma regra proibindo uma pessoa de tirar a vida do outro, tornar-se algo muito mais significativo e complexo que tem a ver com o respeito para com a totalidade do ser humano. O apóstolo Paulo compreendeu essa realidade quando afirmou:
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O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor. Romanos 13:10
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A lei propagada por Moisés tinha seu objetivo, mas, quando aquela jovem moabita encheu-se de amor pelo povo e pelo Deus de Israel, ela transpôs esse obstáculo e alcançou a graça. A Lei punia até a décima geração de povo de Rute porque ele não havia ajudado o povo de Israel em um momento de fragilidade e ainda intentou destruí-lo. Mas agora, aquela moabita não apenas oferece sua ajuda e fidelidade a Noemi no momento de maior fragilidade de sua sogra israelita, como também se torna ela mesma um tijolo na construção de um novo Israel.
Portanto, não há contradição alguma. A lei mosaica era útil para censurar aqueles povos por sua maldade; enquanto que a redenção de Rute dentro do povo de Deus é perfeitamente consoante com o desejo de Deus para com aqueles que ele ama, estejam eles sob quaisquer maldições.
Mas a questão principal é: quantos de nós expulsaríamos a moabita do nosso meio enquanto repetíamos em alta voz as palavras de Moisés? Quantos de nós não chamaríamos de mundanas as igrejas que aceitassem moabitas entre seus membros? Quantos de nós não escreveríamos artigos, teses e recados nas redes sociais defendendo e exigindo a exclusão desses amaldiçoados de nossas igrejas e comunidades?
Vivemos dias em que muitos cristãos mais parecem discípulos dos fariseus do que seguidores de Cristo. Há uma infinidade de pastores que apedrejariam a mulher adúltera simplesmente porque a Lei mandava que assim fosse feito; pastores que reproduzem sua mente farisaica nos membros de suas igrejas e assim transpiram repulsa por homossexuais porque a Lei os trata como abominação; rejeitam e ridicularizam o ministério pastoral feminino porque Paulo diz que a mulher deve aprender em silêncio; ficam apavorados quando algum projeto de Lei fala em outro modelo de família ou tornam-se militantes contra o casamento gay porque se acham como Moisés promulgando suas leis e tornam a igreja numa ridícula agencia encarregada de manter a ordem no mundo.
Enquanto isso, os “amaldiçoados” moabitas e amonitas estão cada vez mais longe do evangelho. Não há dúvida que, assentado em seu alto e sublime trono, Jesus olha dos céus perguntando-se quem assumirá o lugar dele e defenderá a mulher adúltera das pedras dos nossos crentes e pastores fariseus. Quem dará aos “amaldiçoados” homossexuais a oportunidade que aquela moabita teve? Quem se colocará entre eles e os evangélicos fariseus ansiosos pelo cumprimento da Lei?

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Opinião do leitor