Santander

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Pessoas que, como eu, eventualmente prestam atenção a coisas sem a menor importância, talvez tenham notado que recentemente o Banco Santander estreou uma campanha publicitária para a televisão. Nela, após abordar todas as limitações ao orçamento que uma crise financeira normalmente impõe e propor alternativas que permitam aos seus clientes economizar, mas ainda assim viver, a voz firme e atraente de Lázaro Ramos conclui: "Santander. O que podemos fazer por você hoje"?

Pessoalmente, ainda acho que o publicitário que elaborou essa propaganda leu a Bíblia. Afinal, essa pergunta deveria ser uma das mais feitas por cristãos a outras pessoas. Sempre que me lembro dessa propagando imagino aquela cena de uma celebração cristã de domingo pela manhã. A igreja está cheia, as pessoas animadas, o louvor foi entusiasmado. Antes de começar o sermão, o celebrante então sugere que as pessoas se virem umas para as outras e abençoem-se mutuamente. A resposta mais comum a este chamado normalmente é um sorriso para quem está ao lado seguido de um leve toque no ombro acompanhado de um sereno e doce "Deus te abençoe (ou até eu te abençoo), meu irmão".

De fato, essa simples frase é uma oração a qual Deus responde. Mas se voltarmos para a Bíblia (precisamos ter uma fé bíblica!), o que será que o apóstolo Tiago, que escreveu em sua carta "a religião pura e sem mácula, para com o vosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo" (Tiago 1:27) diria quando visse os nossos desejos de abençoar os outros resumidos ao "Deus te abençoe" da celebração dominical? Quando ele usa a figura do órfão e da viúva, estava trazendo aquilo que representava as pessoas mais frágeis e vulneráveis da sociedade de sua época, especialmente do ponto de vista material.

Talvez hoje nem todos os órfãos e viúvas sejam materialmente vulneráveis, mas sempre haverá perto de nós alguém com alguma necessidade (que muitas vezes não é financeira) a qual podemos suprir. Faz alguns meses recebi uma mensagem de uma pessoa perguntando como eu estava seguida de um pedido de oração. Respondi agradecendo a preocupação e comprometendo-me a orar pela situação posta. De fato, o fiz por umas duas ou três vezes na semana que se seguiu; até que eu estava em casa só e me veio um insight de que eu poderia ser a resposta àquela oração. Era tão óbvio que a necessidade pela qual eu estava orando a respeito daquela pessoa podia ser respondida por Deus através da minha vida.

Em Provérbios 3:28 Salomão sabiamente diz "não diga ao seu próximo: ´volte amanhã e eu darei algo a você´ se pode ajudá-lo HOJE". Voltando à carta de Tiago, ele vai indagar: "Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer entre vocês lhes disser: ´vá em paz, aqueçam-se e fartem-se´, sem contudo lhes dar o necessário para o corpo, qual o proveito disso"? Em outras palavras, Tiago está perguntando de que adiantaria dizer Deus te abençoe sem dar o que, de fato, a pessoa precisa.

Nada tenho contra o Deus te abençoe do domingo pela manhã. Ao contrário, sempre respondo com um convicto Amém! Mas podemos, e precisamos, ir além. Precisamos reconhecer as fragilidades e vulnerabilidades de quem está ao nosso alcance e saber para quais delas nós podemos ser a resposta do Senhor.

Talvez você conheça alguma viúva (talvez, quem sabe, de repente você conhece alguma...), cuja necessidade não é roupa nem alimento cotidiano, mas companhia para um sábado à noite, por exemplo. Talvez você conheça um órfão que aguarda ansiosamente um convite para um final de semana diferente do habitual. Talvez você tenha uma colega de trabalho que esteja precisando HOJE de uma oração e de um ombro para derramar lágrimas. Que sejamos mulheres bíblicas. Que possamos ir além. Da próxima vez em que alguém nos sugerir que abençoemos quem está ao nosso lado, poderíamos responder assim: eu não sou o Santander mas...o que eu posso fazer por você hoje, minha irmã?

Deus te abençoe.

Larissa Santos Novais
Salvador, 14 de Março de 2017

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Opinião do leitor