Palavra do leitor
- 26 de março de 2020
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Que voz você distingue?
"A minha busca pela oração, seja um meio para me aproximar do próximo e compreendermos nossas semelhanças’’.
Gênesis 22.1-19
Se há uma passagem, a qual causa uma inquietação e uma intriga, com ênfase, para quem acredita, como eu, num Deus não afeiçoado a nos submeter a um processo de julgamento e culpa ou de estar a mercê de sua vontade e finalidade aleatória, como se fossemos marionetes, encontra-se no texto de Gênesis 22.1, referente ao episódio do sacrifício de Abraão. Mais especificamente, a ordem de Deus para Abraão levar o seu filho, Isaque, para ser o sacrifício, como forma de demonstrar sua total integridade e obediência. Ao chegar, até o local destinado a realização desse ato, Abraão, após amarrar seu filho, em um altar, e quando estava prestes para consumar a execução, ouve Deus se dirigir ao mesmo para preservar a vida do rapaz. Sinceramente, essa história sempre me provocou todo um redemoinho de incertezas e inquietações. Afinal de contas, caso o sacrifício se completasse, o Deus de Abraão estaria na mesma dimensão dos demais deuses afeitos a sacrifícios humanos, mesmo que viesse a ressuscitar Isaac. De modo semelhante, seria essa a maneira de apurar a fé de alguém, em meio a uma situação de extrema complexidade e conflito? Tristemente, muitos se valem dessa narrativa para defender um discurso do sofrimento, como provocado e permitido por Deus, com a intenção de nos contemplar, lá no fim, num belo final feliz. De certo, por mais que considere as palavras de Soren Kierkegaard, quando enfoca o quanto a ordem de Deus se sobrepõe, vai além, sobrepuja a própria moralidade, o próprio sentido de integridade e respeito a vida, não posso me filiar dessa forma. Afinal de contas, como um ser de escolhas morais, porque creio que assim fui criado, por um Deus que busca dos seus filhos e filhas a prática da justiça, da misericórdia, da compaixão, da concordância e da dignidade, estaria por professar uma fé irreal e confusa. É bem verdade, o enredo de Gênesis 22.1-19, mostra Abraão diante de uma prova, mas não sem questionar e obedecer cegamente. Atentemos, a voz de Deus se dirige a Abraão, em dois momentos: primeiro, com o enfoque para tirar a vida de Isaac e, segundo, para preservá-lo. Vale dizer, então, onde está a prova? Presumidamente, na capacidade de Abraão de distinguir a verdadeira, a legítima e a específica voz de Deus da falsa, da farsante e da obscura. Aliás, a voz sempre voltada a proporcionar a Abraão um novo começo, para reconhecer a voz assentada e movida pelo apelo a compaixão e a justiça, a misericórdia e ao respeito a vida, ao ser humano e a si mesmo; para perceber a voz que nos leva a se reconciliar consigo mesmo, com o semelhante e com a vida; para ser invadido pela voz que acolhe os imperfeitos, como eu e você, como todos nós. Em contrapartida, não se alinha a voz das distorções, a voz filiada as violências, em face dos discordantes e diferentes, a voz dos conformismos, ao nos depararmos com figuras marginalizadas, excluídas, como massas de manobras, como descartáveis. Vou adiante, a voz de um Deus farsante e seus triunfalismos, a voz de um Deus confuso e suas ufanias teocráticas.
Parto desses comentários, com um cenário profundamente marcado por uma multidão de vozes intituladas como porta-vozes de Deus, como autorizadas para falar em Seu nome e ninguém mais, sem se submeterem a prova para reconhecer se é a verdadeira ou a falsa voz. Nota-se, a voz verdadeira, legítima e específica leva as pessoas a um porto de esperança e perdão, a um porto de partilhar e compartilhar vida e não o derramamento de ódio, de intolerância, de vingança, de discórdia e de desumanização. Então, qual voz temos distinguido? Será a voz do Deus que nos chama para preservar a vida e os inocentes, os abalados, os vulneráveis e os fragilizados? Será a voz do Deus que me chama para amar, para conciliar, para partilhar, para escutar, para resgatar e para estender? Será a voz do Deus que busca adoradores de uma justiça restauradora e reconciliadora, de uma esperança que nos faça ir adiante, de uma fé amiga e companheira? Ou, em linha oposta, será a voz de um Deus falso, compromissado com a destruição do outro? Ou será a voz de um Deus pautado numa salvação destinado para uns e outros não? Por fim, que voz você distingue, que voz eu distingo, que voz nós distinguimos?
Gênesis 22.1-19
Se há uma passagem, a qual causa uma inquietação e uma intriga, com ênfase, para quem acredita, como eu, num Deus não afeiçoado a nos submeter a um processo de julgamento e culpa ou de estar a mercê de sua vontade e finalidade aleatória, como se fossemos marionetes, encontra-se no texto de Gênesis 22.1, referente ao episódio do sacrifício de Abraão. Mais especificamente, a ordem de Deus para Abraão levar o seu filho, Isaque, para ser o sacrifício, como forma de demonstrar sua total integridade e obediência. Ao chegar, até o local destinado a realização desse ato, Abraão, após amarrar seu filho, em um altar, e quando estava prestes para consumar a execução, ouve Deus se dirigir ao mesmo para preservar a vida do rapaz. Sinceramente, essa história sempre me provocou todo um redemoinho de incertezas e inquietações. Afinal de contas, caso o sacrifício se completasse, o Deus de Abraão estaria na mesma dimensão dos demais deuses afeitos a sacrifícios humanos, mesmo que viesse a ressuscitar Isaac. De modo semelhante, seria essa a maneira de apurar a fé de alguém, em meio a uma situação de extrema complexidade e conflito? Tristemente, muitos se valem dessa narrativa para defender um discurso do sofrimento, como provocado e permitido por Deus, com a intenção de nos contemplar, lá no fim, num belo final feliz. De certo, por mais que considere as palavras de Soren Kierkegaard, quando enfoca o quanto a ordem de Deus se sobrepõe, vai além, sobrepuja a própria moralidade, o próprio sentido de integridade e respeito a vida, não posso me filiar dessa forma. Afinal de contas, como um ser de escolhas morais, porque creio que assim fui criado, por um Deus que busca dos seus filhos e filhas a prática da justiça, da misericórdia, da compaixão, da concordância e da dignidade, estaria por professar uma fé irreal e confusa. É bem verdade, o enredo de Gênesis 22.1-19, mostra Abraão diante de uma prova, mas não sem questionar e obedecer cegamente. Atentemos, a voz de Deus se dirige a Abraão, em dois momentos: primeiro, com o enfoque para tirar a vida de Isaac e, segundo, para preservá-lo. Vale dizer, então, onde está a prova? Presumidamente, na capacidade de Abraão de distinguir a verdadeira, a legítima e a específica voz de Deus da falsa, da farsante e da obscura. Aliás, a voz sempre voltada a proporcionar a Abraão um novo começo, para reconhecer a voz assentada e movida pelo apelo a compaixão e a justiça, a misericórdia e ao respeito a vida, ao ser humano e a si mesmo; para perceber a voz que nos leva a se reconciliar consigo mesmo, com o semelhante e com a vida; para ser invadido pela voz que acolhe os imperfeitos, como eu e você, como todos nós. Em contrapartida, não se alinha a voz das distorções, a voz filiada as violências, em face dos discordantes e diferentes, a voz dos conformismos, ao nos depararmos com figuras marginalizadas, excluídas, como massas de manobras, como descartáveis. Vou adiante, a voz de um Deus farsante e seus triunfalismos, a voz de um Deus confuso e suas ufanias teocráticas.
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