Palavra do leitor
- 17 de janeiro de 2008
- Visualizações: 20750
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
"Estou convosco todos os dias, até a consumação do século"
O fim do evangelho de Mateus é lindo. Deixa a idéia de um processo, algo não acabado, apesar do início ser anterior ao princípio de todas as coisas. De fato, onipresença de Deus e encarnação são coisas muito próximas, meu sentimento quer dizer que são uma só coisa, minha razão ainda não permite (além disso, a cada dia parece que minha razão e emoção são uma só coisa, mas também ainda não posso dizer isso).
Pois bem, esqueçamos um pouco da razão, supondo que ela tenha alguma coisa de não-emoção. Primeiro, não tenho maturidade para divagações racionais. Segundo, porém mais importante, ela tem me parecido muito chata ultimamente. O abandono dos discursos nos permite divagar pelas sensações, pelo que "está aí", pelo frouxo, mas não menos profundo. Isso não significa que a Cruz se relativiza, muito pelo contrário. Aliás, parece que a espinha mais incômoda na carne da igreja em sua história é o condicionamento da centralidade da Cruz a uma dogmática racional, cuja maneira de sê-la é bem posterior a Cristo e não sabemos ao certo o quanto ela tem a ver com sua mensagem. Isto posto e não questionado transfere a autoridade do evangelho para um discurso autêntico, cujo fundamento bíblico não é o bastante para redimi-lo.
Mas deixando de lado as desculpas esfarrapadas deixe-me falar o que queria neste triste sábado à noite. Quando vivemos o cotidiano, olhamos em volta para os que sofrem e para os que não percebem que sofrem, nascemos, morremos, temos filhos, etc., parece que uma coisa passa despercebida. Essa "coisa" é a presença de Cristo. Sim, porque o Pai está no céu, o Espírito sopra por aí, mas Cristo está na Terra. Mais do que isso, está encarnado. É Ele quem se fez homem, portanto Ele está aqui. Tudo o que se passa na humanidade é um longo processo de encarnação, sacrifício, dores, chicotadas e milagres à espera da Cruz e, finalmente, ressurreição. O que aconteceu há 2000 anos é fato consumado, mas também é manifestação histórica do que é e sempre foi. Cristo está entre nós. E todo dia ele oferece a outra face por aí, cura um doente, ensina sobre a Graça e, com muita freqüência, sofre golpes com coroas de espinho. Estes são as guerras, a fome, o materialismo, o hedonismo imbecil, a depressão, o ódio, a injustiça e todo tipo de desgraça.
O mundo geme como em dores de parto porque o Cristo universal e atemporal é golpeado, traído, desacreditado. Sim, ele existiu de fato, nasceu em Belém e tudo mais. Mas também, Ele é Deus, eterno e imutável (qualidade que com o passar do tempo foi confundida com traços de desumanidade). Cristo faz parte da Trindade a fim de dar o toque de humanidade em Deus. Quando Deus se arrepende e fica furioso no Antigo Testamento Ele já está sendo Cristo, porque Cristo se fez homem e Deus se humaniza, no sentido belo. Porém, como Ele é Deus, consegue fazer isso sem ferir sua imutabilidade e vou além: a onipresença de Deus é devida a Seu caráter "Cristão-humano". De fato, é assim que Deus está em todos os lugares, porque é Cristo encarnado que toma a forma de homem e está imerso no mundo. Essa imersão é levada pelo sopro do Espírito Santo, como o anúncio de uma trombeta nos quatro cantos da Terra e nas profundezas de nossa alma.
É por tudo isso que quando sofremos enquanto humanidade estamos enfrentando as conseqüências da Queda. No ditado popular, "estamos pagando pelos nossos pecados". Sim, é justamente isso. Falei há pouco que os golpes sofridos por Cristo aparecem como as desventuras da humanidade. Pois foi por isso que Cristo se rendeu às dores e morte, para pagar nossos pecados originários na Queda.
Dito isso, deve ser lembrado que a salvação já foi dada por Cristo, mediante a Graça. A Via Crucis já foi percorrida por Ele, não temos que repeti-la. Então, parece que estamos diante de uma contradição. Por um lado fomos salvos, por outro pagamos pelos pecados todos os dias. Não, acho que deve ser dito diferente: o que acontece é que vivemos o estado de pecado todos os dias. Mas, salvação e remissão do mundo já foram dadas pela Cruz e Ressureição. Cristo está aí, ele se confunde com o homem; leva tiros, tsunamis, tem fome, chora, tudo juntamente conosco. Porém, já está ressurreto e reinando à destra do Pai. Isso é estranho, mas é essa coisa estranha que nos faz cantar, perceber a beleza de um pôr do sol, amar uma mulher, chorar, se revoltar e, às vezes, desistir.
Pois bem, esqueçamos um pouco da razão, supondo que ela tenha alguma coisa de não-emoção. Primeiro, não tenho maturidade para divagações racionais. Segundo, porém mais importante, ela tem me parecido muito chata ultimamente. O abandono dos discursos nos permite divagar pelas sensações, pelo que "está aí", pelo frouxo, mas não menos profundo. Isso não significa que a Cruz se relativiza, muito pelo contrário. Aliás, parece que a espinha mais incômoda na carne da igreja em sua história é o condicionamento da centralidade da Cruz a uma dogmática racional, cuja maneira de sê-la é bem posterior a Cristo e não sabemos ao certo o quanto ela tem a ver com sua mensagem. Isto posto e não questionado transfere a autoridade do evangelho para um discurso autêntico, cujo fundamento bíblico não é o bastante para redimi-lo.
Mas deixando de lado as desculpas esfarrapadas deixe-me falar o que queria neste triste sábado à noite. Quando vivemos o cotidiano, olhamos em volta para os que sofrem e para os que não percebem que sofrem, nascemos, morremos, temos filhos, etc., parece que uma coisa passa despercebida. Essa "coisa" é a presença de Cristo. Sim, porque o Pai está no céu, o Espírito sopra por aí, mas Cristo está na Terra. Mais do que isso, está encarnado. É Ele quem se fez homem, portanto Ele está aqui. Tudo o que se passa na humanidade é um longo processo de encarnação, sacrifício, dores, chicotadas e milagres à espera da Cruz e, finalmente, ressurreição. O que aconteceu há 2000 anos é fato consumado, mas também é manifestação histórica do que é e sempre foi. Cristo está entre nós. E todo dia ele oferece a outra face por aí, cura um doente, ensina sobre a Graça e, com muita freqüência, sofre golpes com coroas de espinho. Estes são as guerras, a fome, o materialismo, o hedonismo imbecil, a depressão, o ódio, a injustiça e todo tipo de desgraça.
O mundo geme como em dores de parto porque o Cristo universal e atemporal é golpeado, traído, desacreditado. Sim, ele existiu de fato, nasceu em Belém e tudo mais. Mas também, Ele é Deus, eterno e imutável (qualidade que com o passar do tempo foi confundida com traços de desumanidade). Cristo faz parte da Trindade a fim de dar o toque de humanidade em Deus. Quando Deus se arrepende e fica furioso no Antigo Testamento Ele já está sendo Cristo, porque Cristo se fez homem e Deus se humaniza, no sentido belo. Porém, como Ele é Deus, consegue fazer isso sem ferir sua imutabilidade e vou além: a onipresença de Deus é devida a Seu caráter "Cristão-humano". De fato, é assim que Deus está em todos os lugares, porque é Cristo encarnado que toma a forma de homem e está imerso no mundo. Essa imersão é levada pelo sopro do Espírito Santo, como o anúncio de uma trombeta nos quatro cantos da Terra e nas profundezas de nossa alma.
É por tudo isso que quando sofremos enquanto humanidade estamos enfrentando as conseqüências da Queda. No ditado popular, "estamos pagando pelos nossos pecados". Sim, é justamente isso. Falei há pouco que os golpes sofridos por Cristo aparecem como as desventuras da humanidade. Pois foi por isso que Cristo se rendeu às dores e morte, para pagar nossos pecados originários na Queda.
Dito isso, deve ser lembrado que a salvação já foi dada por Cristo, mediante a Graça. A Via Crucis já foi percorrida por Ele, não temos que repeti-la. Então, parece que estamos diante de uma contradição. Por um lado fomos salvos, por outro pagamos pelos pecados todos os dias. Não, acho que deve ser dito diferente: o que acontece é que vivemos o estado de pecado todos os dias. Mas, salvação e remissão do mundo já foram dadas pela Cruz e Ressureição. Cristo está aí, ele se confunde com o homem; leva tiros, tsunamis, tem fome, chora, tudo juntamente conosco. Porém, já está ressurreto e reinando à destra do Pai. Isso é estranho, mas é essa coisa estranha que nos faz cantar, perceber a beleza de um pôr do sol, amar uma mulher, chorar, se revoltar e, às vezes, desistir.
Os artigos e comentários publicados na seção Palavra do Leitor são de única e exclusiva responsabilidade
dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
- 17 de janeiro de 2008
- Visualizações: 20750
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Revista Ultimato
- +lidos
- +comentados
- Razão da fé não é fé da razão
- Graça ou obras?
- Você nunca perderá sua Salvação #01
- Porque Deus é bom
- "Pastoral" nos dois sentidos!
- Cruz: perdão ou tolerância?
- Antoine de Saint-Exupéry: 80 anos da partida do piloto poeta
- Feliz dia da verdade
- Haverá algo que esteja no seu devido lugar ou no seu estado?
- Somos santos ou não?